Instalação Feras
Exposição Guerra e Paz
Theatro Brasil Vallourec 2013 - Belo Horizonte
Ultrapassando o universo pictórico de Portinari, nos oferecendo nova e impactante emoção, dezenas de imagens que tanto apreciamos nas telas, revividas agora em integração perfeita entre dois artistas, ganham concretude e peso na nobreza do bronze das esculturas de Sérgio Campos.
As “FERAS”, na visão do autor, interrogam o homem moderno que, ao assumir que saber é poder, exerce cegamente seu domínio sobre a natureza. A globalização do capital, o crescimento tentacular do mercado e a voracidade de um mundo dominado pelo consumo, tornam-se uma usina de temores e angústias. A avalanche tecnológica e o ritmo acelerado das mudanças atropelam valores universais da nossa civilização. As FERAS nos rondam como o signo de um mundo dominado pelo medo e pela insegurança. Essa é a nossa GUERRA!
A vigilância precisa ser lúcida e exigente: que não se pratique apenas um olhar sobre o outro, um dedo acusador voltado para os demais. As FERAS fazem parte do humano e, portanto, estão também em nós, à espera de um aprendizado da sensibilidade: resta ao homem, em sua difícil viagem a si mesmo, humanizar-se e conquistar a almejada PAZ.
Essa INSTALAÇÃO é tão somente uma pequena amostra da formidável série intitulada Projeto Palaninho, d’après Portinari - Esculturas de Sérgio Campos, dedicada ao grande pintor. Nela, entre outras peças, as FERAS, representadas no painel “GUERRA”, assumem seu caráter atemporal de metáfora contemporânea.
Luzia de Maria, escritora
Vivemos o mundo onde tudo se impõe pelo lucro e riqueza, pelas aparências físicas ou a exploração da ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. A fera antissocial entediada que não é capaz de resistir ao medo do seu íntimo vazio, a que tudo devora e asfixia o sonho.
Estamos todos num invólucro e as “FERAS” não se dão conta do fato, atemorizam ante a ideia de que triunfe um movimento comportamental oposto.
A pantofobia instala-se no homem contemporâneo e um espasmo apodera-se dos corpos. Faz sentir a necessidade de ocupar-se com a ação e não com o fracasso, do que resulta não só uma apreensão e uma inquietação, mas também um esforço doloroso. A manifestação do sofrimento que decanta de tantas fibras torturadas é a nossa própria guerra.
Na hipertrofia do racional, o temor às feras, as obscuras forças que são capazes de emergir em nós, desde a profundidade do inconsciente, nos impele a fugir para frente contra o medo.
Somos o testemunho de uma época de transição, à qual se interpõem dúvidas antigas.
Não vamos sofrer a guerra, mas fazê-la de outro modo. Quando não resta o recurso de evitá-la, há que esquecer o corpo dentro da alma inquieta e cultivar a PAZ! Eis a marca de Portinari inevitavelmente gravada em sua arte.
Sérgio Campos
FERA
Candido Portinari
1955
Desenho a grafite/papel
22 x 18cm
Rio de Janeiro, RJ